Você provavelmente já ouviu alguma criança ou adolescente dizer que gostaria de não ir mais à escola. Como, do dia para a noite, o aluno dedicado e comprometido começa a mudar suas atitudes? O desempenho escolar cai, o isolamento social se inicia e com isso várias queixas de mal estar aparecem. Por isso, quando essa situação se revela é preciso acender um sinal de alerta para um problema gravíssimo: o bullying nas escolas.
O bullying é um comportamento agressivo e intencional que acontece repetidas vezes e em diversos cenários. No ambiente escolar, pode se apresentar de quatro formas distintas: verbal, físico, social e o cyberbullying – este último ocorre por meio das plataformas digitais. As agressões começam sem nenhum motivo aparente e podem ter diversos focos, como, por exemplo, características físicas e sociais de uma pessoa.
Em todas essas formas o objetivo é sempre o mesmo: agredir a vítima e causar constrangimento. Porém, as consequências dessas agressões são múltiplas e podem chegar até aos casos mais graves, como o que foi registrado recentemente em uma escola de alto padrão na zona sul de São Paulo. Um adolescente de 14 anos bolsista tirou a própria vida após ser vítima de bullying. Os agressores o atacavam pela cor da pele, condição social e orientação sexual.
A morte trágica e repentina acende um alerta a toda a sociedade e traz vários questionamentos para pais e responsáveis.
COMO IDENTIFICAR UMA VÍTIMA?
Cada criança e/ou adolescente pode manifestar as agressões sofridas de maneira distinta. Os sinais podem ser desde mudanças comportamentais – como isolamento social ou perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas a até queixas físicas. Algumas vítimas relatam dores de cabeça e estômago sem explicação, além de dificuldades para dormir, como insônia ou pesadelos.
Com todos esses sinais, a dica da psicóloga Bruna Pena é simples: criar um ambiente seguro desde os primeiros anos de vida, onde eles se sintam à vontade para compartilhar suas experiências
“Ouvir atentamente e sem julgamentos é essencial. Conversas abertas sobre o que está acontecendo na escola ajudam a criança a se sentir apoiada e compreendida. Validar os sentimentos dela é muito importante. Dizer que é normal sentir-se triste ou ansiosa pode fazer toda a diferença. Além é claro, do amplo diálogo na escola com professores e a participação ativa na vida escolar do estudante”, ressalta.
COMO TRATAR A VÍTIMA? MUDAR DE ESCOLA É OPÇÃO?
O tratamento requer sensibilidade e atenção, além de um plano de ação que priorize o bem-estar emocional da criança ou adolescente. O indicado é que comece imediatamente o acolhimento dessa vítima em casa, com uma escuta ativa que permita a ela compartilhar suas experiências sem sentir que está sendo julgada. Paralelamente, um acompanhamento psicológico, além do diálogo amplo com professores e toda a comunidade escolar.
Já em relação à mudança de escola, a psicóloga diz que a alternativa pode ser considerada como uma boa solução, mas não é necessariamente a única ou a melhor em todos os casos. “Se o ambiente escolar atual for tóxico e não houver suporte suficiente para resolver o problema, pode ser uma alternativa viável. Porém, é preciso fazer o alerta: essa mudança também pode gerar ansiedade e insegurança na criança. Por isso é essencial observar como ela se sente. Embora uma nova escola possa oferecer um ambiente mais acolhedor e novas oportunidades sociais, essa transição deve ser bem planejada e acompanhada”, explica.
Independente da decisão sobre mudar ou não de escola, o foco da família deve estar no apoio emocional contínuo à vítima.
IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO DE CRIANÇAS
O acompanhamento desde cedo é fundamental para um crescimento saudável das crianças. O desenvolvimento emocional é o primeiro foco a ser tratado, permitindo que elas aprendam a reconhecer e nomear suas emoções – fator crucial para a regulação emocional.
Além desse apoio poder ajudar na gestão do estresse, desenvolvendo habilidades para lidar com situações desafiadoras, Bruna ressalta a redução de problemas mais graves na adolescência e na vida adulta. “Esse acompanhamento fortalece a autoestima e a autoconfiança das crianças, ajudando na construção de uma autoimagem positiva e incentivando o reconhecimento de habilidades e talentos. Todos esses fatores podem promover um senso de realização. Isso também reduz o risco de transtornos como ansiedade e depressão, proporcionando um ambiente mais estável para lidar com qualquer adversidade”, destaca.
Bruna Pena é graduada em Psicologia e especialista em Saúde Pública e Psicanálise Clínica.